A xenofobia é coisa feia, Carlito
O prefeito Carlito anda nervoso, irritadiço e
parece ter perdido a tolerância que fez dele um político respeitado e elogiado
pela capacidade de diálogo. Em recente programa de televisão, ele se posicionou
sobre a ação popular que, graças a uma liminar, impediu a votação da LOT - Lei
de Ordenamento Territorial. Uma medida que levou o município a corrigir os
erros cometidos no processo de discussão e elaboração do documento, inclusive
obrigando a rever a composição do Conselho da Cidade.
Por causa da ação popular, da qual sou
subscritor, durante um programa de televisão o prefeito me qualificou (ou será
que o objetivo era desqualificar?) de maneira pouco republicana. Afirmou
textualmente: “nem brasileiro é”. A afirmação revela outro componente mais
complexo: parece que nem todos os joinvilenses têm o direito a defender a sua
cidade. Que uns são mais joinvilenses que outros. Ou, ainda, que há um direito
negado a quem veio de fora e aprendeu a amar, acreditar e promover o melhor
para esta cidade.
Se o raciocínio do prefeito tiver outros
seguidores na sua administração é um caminho perigoso. Aliás, em termos
práticos, ao dizer que “nem brasileiro é...” o prefeito cometeu uma incorreção.
Será preciso lembrá-lo que para ocupar cargo público é imperativo ser cidadão brasileiro.
O prefeito, sabedor da minha condição de ex-secretário municipal e
ex-presidente da Conurb, deveria concluir que sou sim cidadão brasileiro de
pleno direito.
E há algo a dizer sobre o programa de televisão, que é
patrocinado e dirigido pelo SECOVI (o Sindicato das Empresas de Compra,
Venda, Locação e Administração de Imóveis e dos Condominios Residenciais e
Comerciais do Norte do Estado de Santa Catarina - SECOVI Norte), que representa
os interesses do setor imobiliário e é apresentado pelo seu presidente, Jorge
Laureano (ver vídeo anexo). O prefeito Carlito Merss se sentia evidentemente à
vontade, num ambiente que lhe era cômodo, em que não esperava nenhuma questão
incomoda. Poderia ser dito que estava entre amigos.
O prefeito fez questão de citar nominalmente e
tecer comentários – na maioria menos elogiosos – sobre cada um dos autores da
ação popular. A prova que o prefeito vinha preparado para ser questionado sobre
o tema é que tirou do bolso da camisa uma “cola” com os nomes de cada um dos
autores. Parece que Carlito Merss, além de nervoso e irritadiço, também anda
esquecidiço. Anda tão esquecidiço que até esqueceu que, em passado não tão
recente, já me pediu voto, tanto para ele próprio como para os outros
candidatos do seu partido. Mas como poderia votar se não fosse brasileiro
naturalizado?
Por que o prefeito se arvora num direito que
não lhe pertence? O direito de decidir quem são os joinvilenses, os que podem
ou não amar esta terra. Quem tem o direito de gostar e defender a cidade em que
vivemos, trabalhamos e construímos o futuro nosso e dos nossos filhos.
Discriminar uns em beneficio de outros é um erro grave. Pode, inclusive, ser
considerado delito. A discriminação por origem, nacionalidade ou raça é um
delito mais próprio das organizações de extrema direita. Não posso imaginar uma
pessoa que, durante toda a vida, tem se apresentado como democrata e defensor
do modelo republicano, ser tão leviana ao ponto de ter atitudes xenófobas.
É evidente que a situação deixou o prefeito
Carlito desconfortável. Porque uma vez mais foi mal assessorado e entrou numa
canoa furada. E agora precisa agora correr atrás do prejuízo para atender as
recomendações do Ministério Público. Mas daí à xenofobia é um grande passo.
Jordi,
ResponderExcluiro prefeito estava na frente de uma platéia ávida por boas notícias sobre o mercado imobiliário. Principalmente se estas notícias forem facilitadoras para o processo de ocupação da cidade. É esta galera que ajuda a definir, tanto no Conselho como nos bastidores, os moldes da LOT.
Daí qualquer mis-en-scène ou apelação pode valer. Inclusive xenofobia.
Imagine se para cada platéia ele se portar desta forma. Não haverá (como não há) mais diferença entre ele e os outros