28 de julho de 2012

Cuidado com os conformistas


Os conformistas


Nada a ver com o protagonista do filme de Bernardo Bertolucci e roteiro de Alberto Moravia, mas os conformistas estão hoje por todos os lados. Invadem-nos e nos envolvem com sua atitude passiva, com o seu conformismo frente a tudo. Tolamente se alegram e fazem algaravia por qualquer coisa menor, como se fosse um grande acontecimento e merecesse todo este barulho.

Os conformistas são esta gente que se satisfaz com pouco. Algumas vezes ficam contentes com nada, enchem os seus espíritos vazios de ar, de pura empulhação, que os alimenta e nutre. Acreditam em palavras vazias, imaginam que se algum político diz que vai inaugurar isto ou aquilo, em determinada data, aquilo é uma verdade absoluta. Ignorando, no seu conformismo, que nem o próprio político acredita no que afirma.
Os conformistas são como um lastro que não nos deixa avançar, nos mantém presos à nossa mediocridade provinciana e nos impedem de sonhar e de ir além. Querem nos convencer que estamos muito bem, que vivemos na melhor cidade de Santa Catarina, no melhor estado do país e no melhor país do mundo.

Que os dados do censo mostrem que as desigualdades subsistem, que as diferenças entre os mais ricos e os mais pobres aumentam, que o salário médio é baixo. Os conformistas querem que mantenhamos uma venda sobre os olhos, que não possamos enxergar como as coisas poderiam ser, e que não nos rebelemos contra a situação que aqui está.

Alguns são conformistas porque não conhecem outra realidade e acreditam piamente que vivemos no melhor dos mundos. Outros levam o seu conformismo ao extremo de imaginar que isto é o melhor a que podemos aspirar. E que, mesmo sabendo existirem alternativas melhores que a nossa, elas estão fora do nosso alcance, ou porque não as merecemos ou porque somos incapazes de atingi-las. Como na fábula de Esopo, em que uma raposa morta de fome vê uma parreira carregada de cachos de uva, intentou alcançá-la e depois de árduos intentos desistiu alegando que as uvas estavam verdes.

Fazer do conformismo uma corrente que nos prende à mediocridade é condenar-nos a permanecer servis, a não avançar, a não sonhar, a aceitar soluções medianas como sendo boas, remendos de solução. É um castigo injusto e desproporcional para uma cidade que merece mais e aspira a um futuro melhor. Uma cidade que já foi altiva, orgulhosa e exemplo, e que hoje insiste em conformar-se com pouco ou com muito pouco. A única solução é enfrentar este conformismo capacho, mantendo-nos firmes e indômitos.



Publicado no jornal A Noticia de Joinville SC

2 comentários:

  1. Caro Jordi,

    Esse seu artigo, penso eu, atinge o verdadeiro e principal cancer que carcome nossa sociedade. Fiquei muitos anos fora de Joinville (desde a década de 70), e entre as muitas novas características sociais que encontrei aqui ao voltar, a que mais me decepcionou foi exatamente esse espírito conformista. De aceitar qualquer solução "meia-boca" como suficiente, sem se importar com o que vai acontecer poucos meses à frente.
    É assim para quase tudo. Para o PA que não funciona cem por cento, mas "já está melhor".
    Para o ônibus caindo aos pedaços, mas...ainda quebra o galho.
    Para a escola com teto caindo, mas...por enquanto ainda dá pra usar (até que Dona Lia da Vigilancia Sanitária a feche)
    Principalmente para o recapeamento com asfalto de tres centimetros, que não consegue durar por uma gestão. E não me refiro ao asfalto do Carlito não. LHS/Tebaldi foram pródigos nesse tipo de empulhação, mas nao quero desviar o assunto.
    A altivez e orgulho de outrora que voce cita, foram substituídos por uma desmedida presunção de sermos melhores porque "somos os maiores"
    Durante nossa história, sempre usamos epítetos que de alguma forma revelavam a época vivida. "Manchester Catarinense" foi o mais grandiloquente entre outros como, "Cidade do Príncipes" e "Cidade das Flores".
    Hoje, o que mais se repete, verdadeiro mantra, é o sintomático "Maior Cidade do Estado".
    Parece que estufar o peito e repeti-lo à exaustão exerce um efeito anestésico geral que nos impede de enxergar com clareza o quanto estamos ficando para trás. Alguns radialistas até usam esse título para arrogantemente exigir tratamento diferenciado, só porque "somos a maior cidade" e merecemos mais. E esquecemos todos de fazer o dever de casa, cuidando do nosso próprio quintal com mais carinho, e reinvindicar com mais inteligencia.
    Pessoalmente pouco me importo em ser maior ou menor que outros. O que quero é qualidade de vida. E isso já tivemos muito mais no passado.
    Por isso aprecio a sua luta (epa) meu caro Jordi. Inglória e dificil por certo, mas sempre constante. Obrigado por se importar.

    ResponderExcluir
  2. Nelson Jvlle

    Obrigado, esta deveria ser uma luta de todos. mas a mediocridade não nos permite enxergar que estamos de fato retrocedendo, perdendo qualidade de vida e comprometendo o nosso futuro como sociedade.

    Agradeço a força e a solidariedade.

    ResponderExcluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...