19 de agosto de 2012

A Teoria do Forno




A teoria do forno é muito conhecida em estudos econômicos, mas alcança a perfeição na política. Em tempo de campanha a sua utilização pelos candidatos é até abusiva. É uma teoria muito simples e se baseia em pesquisas e estudos reais e concretos. Se estiver com a cabeça no freezer e o traseiro no forno a estatística provará que estou na temperatura perfeita. As duas temperaturas extremas divididas pelo numero de pontos de amostragem tem como resultado a temperatura ideal.

Na hora em que os candidatos se esmeram em mostrar o que fizeram durante a sua gestão é o momento de provar que as estatísticas não mentem. Um bom exemplo disso é a informação recente do IPPUJ (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Joinville) que divulgou a extensão de ciclovias e ciclofaixas que, aplicando a teoria do forno, fariam de Joinville uma das cidades referencia para ciclistas e uma das que mais tem investido na mobilidade e segurança deste meio de transporte.

Se você não morasse aqui, ou não conhecesse a realidade local, até poderia se sentir impelido a colocar a sua bicicleta na bagagem e vir fazer ciclo turismo. Caso se atrevesse levaria uma bela desilusão. Os dados são que há 101,4 km de ciclovias e ciclofaixas, sendo 85,8 km de ciclofaixas e 15,6 km de ciclovias. Esquece de mencionar que não estão interligados. O resultado é uma malha desconexa, sem sequencia nem continuidade. Há ciclofaixas que depois de iniciadas nunca foram concluídas, ou acabou o orçamento ou faltou planejamento. Um bom exemplo é a que deveria ligar o centro com o Parque José Alencar (Parque da Cidade) além de interrompida em vários trechos, na sua parte final não foi concluída.

O que se vê é uma política, de estimulo ao uso da bicicleta, espasmódica e pontual, feita mais para aparecer nas estatísticas que para ser uma opção real para ao cidadão. Um dos poucos trechos em que poderíamos falar de uma ciclovia digna de tal nome é na Avda. Beira rio. Sem interligação efetiva com o resto da malha, o resultado é que acaba sendo pouco usada pelos ciclistas. Em outros casos como nas Ruas Otto Bohem ou Dona Francisca a ciclofaixa além de iniciar e terminar de forma abrupta ainda compartilha espaço com pontos de ônibus o que reduz a segurança dos ciclistas. As normas de segurança e principalmente o bom senso sugerem que o ciclista seja mais protegido e se possível segregado do carro.

Mas não há problema, tanto nas estatísticas como no material de campanha os kilometros de ciclofaixas pintados e sinalizados nesta gestão estarão plasmados como um dos grandes logros desta gestão. E é provável que seja mesmo um “logro” ainda que o objetivo estatístico tenha sido atingido.

Publicado no jornal A Noticia de Joinville SC

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