11 de outubro de 2007

A ditadura do Ipê amarelo



O ipê amarelo tem assumido um papel de protagonista entre as arvores de Joinville, que não corresponde a sua importância botânica, nem a sua presença nas nossas matas e florestas. Tem se convertido quase que na nossa arvore oficial. Não tenho certeza que o ipê amarelo seja a arvore do coração do joinvilense, que se sente mais atraído, pela doçura das ameixas, a exuberância das jabuticabeiras, a histórica tradição do Pau Brasil ou simplesmente pela singela beleza do jacatirão.

Já dizia Nelson Rodrigues, que toda unanimidade é burra, imagino que o movimento, que busca fazer de Joinville um monótono reflorestamento de Tabebuia, porque este é o nome técnico dos ipês, e não só dos amarelos, também dos roxos, rosas e brancos, também tenha algo de pouco inteligente.

Um pais, que tem na sua biodiversidade o seu maior patrimônio, que tem na sua gente a mais bela representação, da sua diversidade e da sua riqueza. Que recebeu de braços abertos a amarelos, pretos e brancos, por ficar nas cores que temos usado de uma forma primaria para definir os principais grupos raciais que compõem o multicolorido arco íris da nossa identidade. Não posso acreditar que vamos ficar só, no monocromático amarelo.

Propondo uma Joinville, que alterne em partes iguais o cinza do concreto e o amarelo dos ipês.

Onde ficariam os multicoloridos Jacatirões e Manacás? É o vermelho dos Mulungus, do Pau Formiga? O branco perfumado de Jabuticabeiras, Pitangas e Grumixamas? Os tons de amarelo dos Guapuruvus, das Canafistulas e Sibipurunas? O azul dos Jacarandás e das Sapucaias? O rosa das Paineras, do Urucum, do doce Bacuri? Os tons infinitos de verde da Juçara, dos Jerivás e das Figueiras?

Se por um lado, são os ipês os arautos da primavera, Joinville, não pode ficar só no amarelo do Ipê, nos seus poucos dias de flor, sempre interrompidos pela primeira chuva, que converte as calçadas e gramados, num tapete dourado, no reflexo espelhado da copa dorada. Eu escolheria o magnífico Ipê roxo da rua Alexandre Dohler, ou os Ipês rosas da rua Lages, para complementar o arco íris.

A unanimidade em torno do Ipê, é muito mais fruto do pouco conhecimento, que temos, das nossas arvores, da pobreza das nossas praças e parques, da falta de um rico vocabulário botânico que nos permita expressar melhor a nossa identidade, da nossa vontade de fazer deste um mundo melhor. Mais verde e mais florido, mais humano.

Com certeza que as diversas iniciativas que tem como objetivo distribuir mudas de ipê amarelo e incentivar o plantio de arvores em praças e quintais, devem ser aplaudidas e apoiadas. Joinville ganharia mais, se o nosso futuro fosse como o nosso pais, mais plural e diverso, com espaço para todas as cores, mais rico e mais variado.

Publicado no AN Cidade

3 comentários:

  1. ........adorei o artigo de hoje
    a "ditadura" do ipê vem dos programas de rádio.....mais precisamente
    do Eli Francisco que é "amante" em verso e em prosa dos ipês...
    abraços de novo horário...e viva o verão
    Carin

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  2. Para o artigo de 2007, trago uma notícia urgente:
    Podemos encontrar fartamente jabuticabas em Joinville, no Angeloni vendidas em oferta a "apenas" R$6,22 o Kg.

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  3. Aff!Jabuticaba comprada não tem gosto.Tem que catar no pé.Igual ameixa ou como diz meu filho Nespera.O doce aroma de suas flores já causa água na boa e uma bela calma dessa frutinha deliciosa faz lamber os dedos até o mais elegante degustador.
    Ipê é lindo,mas comoa juventude...beleza que logo se vai...vale mesmo o sabor e a delícia do duradouro.Beijão.

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