A classe média
Os códigos escritos que servem para
identificar estatisticamente as diversas classes sociais ganhou novos
componentes com a aparição da nova classe média. Impulsionada pela estabilidade
econômica, e principalmente pela disponibilidade aparentemente inesgotável
de crédito para o consumo surgiu, no país, uma nova figura que tem
passado a formar parte de todas as estatísticas a nova classe média. Seria
presunçoso enquadrá-la na categoria de novos ricos porque não
chega ao patamar de poder ser considerada assim. Mas formam um grupo
poderoso de consumidores.
Felizes proprietários de extensos crediários, que
suportam uma longa lista de compras de eletroeletrônicos,
eletrodomésticos, e, em alguns casos, inclusive veículos e
outros bens de maior valor. O prazer consumista do brasileiro alcança o
seu ápice com esta nova classe social emergente, que concretiza por
meio do consumo a sua ascensão social.
Nos últimos anos este grupo é bem
visto quase que só pela Receita Federal. O órgão
federal consegue superar, ano após ano, as suas metas de
arrecadação, tanto pela sua eficiência, como pela atenção com que trata
estes brasileiros que se converteram diretamente em contribuintes que
pagam tributos.
Fora do carinho e atenção especiais que
recebem dos coletores de impostos, este grupo é praticamente
desconsiderado por boa parte da estrutura pública, e a sua estigmatização
está em andamento. Este pessoal é percebido como
responsável por algumas situações supostamente negativas no contexto
socioeconômico. Integrantes deste grupo insistem em não
utilizar o maravilhoso e eficiente transporte público. Reclamam, cada vez
com menos vergonha, quando sentem que os seus direitos não são respeitados.
Quando alguém quer mudar a lei para construir espigões de concreto no que até
ontem era um bairro residencial, se organizam em associações de moradores
e publicam cartas nos jornais. Ainda utilizam as redes sociais para
protestar pelos gastos da Câmara de Vereadores e apontam, criticamente,
a cobrança de diárias dos deputados da sua região. Esta fatia
da classe média insiste em não querer que o país se desenvolva, que tudo
seja feito em nome do crescimento economico. Exige parques, espaços para o
lazer e a cultura. Acha que a saúde deveria ser melhor e que as pessoas
deveriam estar no centro da gestão pública.
O problema é esse: a partir do
instante em que teve acesso ao consumo, (e à voz), esta
"gentinha" não quer ser só contribuinte e insiste em querer ser
cidadã.. E isso - percebe-se - desagrada a muitos, que ocupam espaços
privilegiados nos escaninhos dos Poderes e não estão muito dispostos a
compartir esse espaço.
Publicado no jornal A Noticia de Joinville SC
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