10 de janeiro de 2019

Carrocentrismo

Carrocentrismo

O modelo de desenvolvimento urbano que adotamos e seguimos é carrocentrista, alguns o denominam antropocentrista, colocando, no seu discurso o homem no centro do modelo, mas cada vez mais estamos implantando um modelo carrocentrista, aquele em que o veiculo é o centro de todas as decisões que tomamos. Há vários motivos que justificam e que incentivam esta modelo, mas há poucos estudos sobre o impacto e o preço que estamos pagando e seguiremos pagando por décadas por esta serie de decisões equivocadas, pior que equivocadas, que já é grave, são decisões ultrapassadas porque a maioria de cidades localizadas nas sociedades mais desenvolvidas já faz tempo que estão na contramão deste modelo e avançam firmemente na direção a partir de um modelo de planejamento urbano mais humanizado em que o pedestre seja o centro e a sustentabilidade, a natureza, a permeabilidade, a transparência, a saúde, em definitiva a qualidade de vida seja o eixo principal do desenvolvimento.

Já há estudos que provam o impacto dos 8 anos de Uber no mundo, houve uma redução no numero de proprietarios de carros nas grandes cidades, paralelamente a este dado há cidades e especialmente bairros de renda alta em que o numero de veiculos aumentou gerando medias superiores a um carro por habitante. 

Joinville tem tomado uma serie de decisões equivocadas no que se refere ao planejamento urbano, são décadas de erros. Só agora começam a ser evidentes os resultados desta continua serie de erros e só agora o cidadão começa a pagar o preço de toda esta incompetência. Quando se planeja uma cidade os impactos, tanto positivos, como negativos, muitas vezes levam tempo para ser percebidos. A decisão de priorizar o uso do carro em detrimento do estimular a mobilidade a pé ou por bicicleta tem impacto na saúde dos joinvilenses, caminhando menos temos uma geração mais sedentária, mais obesa, com mais doenças respiratórias, cidades que utilizam combustíveis fósseis, como gasolina e óleo diesel tem uma qualidade do ar pior e isso tem impacto sobre todos os habitantes.

Quando afastamos o pedestre da rua, as ruas estão mais desertas, menos seguras e isso estimula o aumento da violência urbana e a insegurança, cada vez mais pessoas evitam caminhar por ruas pouco movimentadas e a cidade vai se esvaziando. Ruas bem iluminadas, com calçadas largas e arborizadas são mais seguras, estimulam a caminhar, o comercio vende mais e aumentam a atratividade da cidade.

Quando Joinville permitiu que os veículos ocupassem toda a frente dos imóveis para estacionar e manobrar, aumentou o risco de acidentes para os pedestres, se perdeu permeabilidade, porque áreas que até aquele momento eram verdes foram calçadas. O interesse de uma minoria teve acolhida na Câmara de Vereadores e o prefeito não vetou uma lei absurda. Do mesmo jeito quando a legislação exige que cada prédio tenha estacionamento para os moradores e visitantes ou clientes se busca desafogar as ruas de carros, mas se encarece cada vez mais o acesso a moradia. Quantos metros quadrados Joinville construiu nos últimos anos exclusivamente para servir de garagem? A que custo? Em quanto na maioria de cidades europeias são os municípios os que constroem ou estimulam em parceria com a iniciativa privada a construção de estacionamentos públicos e os recursos arrecadados se destinam a investimentos em melhoria da mobilidade, a construção de mais e melhores calçadas e passeios, a construção de praças e áreas verdes, ao plantio de arvores e a implantação de ciclovias bem planejadas e seguras aqui nem sonhamos em algo parecido.


Políticas públicas de desenvolvimento urbano hoje devem considerar que o modelo atual está obsoleto e não pode ser mantido por mais tempo. As cidades devem buscar obsessivamente a preservação da qualidade de vida e principalmente ter uma visão de futuro em que se deixe de priorizar o carro como modal de transporte e se desestimule o uso de veículos movidos a combustível fóssil. Em quanto, nos países desenvolvidos vemos cada vez mais cidades restringirem o acesso dos carros aos seus centros urbanos, agregando mais e mais ruas a lista e expandindo as áreas livres de carros, aqui estamos fazendo tudo para colocar o carro na sala e no quarto. Já pensou em quanto espaço estamos destinando aos carros e quanto custa? Já pensou se este espaço não poderia ser melhor utilizado? Já fez contas de quanto custa todo esse espaço?

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