Como cada início de ano, chegou a época do aumento da passagem de transporte coletivo em Joinville. Como a cada ano volta o debate sobre o percentual de aumento que o poder público concederá. As empresas pedem mais, o prefeito concede menos do que pedem e todos ficam felizes. Todos? Bem, todos não. Os usuários do sistema, empregados e empregadores pagadores do vale-transporte pagarão o novo valor.
O debate sobre o transporte público está distorcido por vários elementos entre vários outros, há dois elementos que o desvirtuam. O primeiro é o IPK. O índice de passageiros por quilômetro é um dos mais importantes índices de reajuste da tarifa. Como o IPK não para de cair faz décadas e ninguém parece muito preocupado com o fato de que quanto mais a população de Joinville aumenta, menos passageiros usam o sistema, o reajuste da tarifa garante a rentabilidade do sistema. Uma lógica perversa que inibe ações para aumentar o número de passageiros pagantes.
O segundo ponto é a implantação da integração e da passagem única. Enquanto os sistemas de transporte público modernos aplicam o principio dos anéis, quem percorre distâncias maiores paga mais, aqui o sistema beneficia o passageiro que faz o trajeto mais longo. Por exemplo: entre Pirabeiraba e o Itinga ou entre o Vila Nova e o Espinheiros. É bom lembrar que a integração é capenga e os usuários de Pirabeiraba devem pagar duas passagens, numa excrescência inadmissível e que se mantém por décadas.
Para subvencionar as viagens longas e uma Joinville espraiada e cara, os usuários do trajeto Boa Vista-Centro, Santo Antonio-Centro ou Centro-Floresta pagam uma passagem muito cara. O resultado é que é mais barato usar o carro para trajetos curtos, e mais usuários fogem do sistema a cada ano. Assim não só não se estimula o uso do transporte público, como se faz exatamente o contrario do pretendido.
O debate sobre o transporte público está longe de acabar. Não se pode reduzi-lo ao valor da passagem sem considerar outros aspectos, como o próprio vale-transporte, os pesados investimentos que o poder público terá que continuar fazendo para privilegiar o uso do carro ou, ainda, o modelo de cidade que Joinville projeta na LOT, avançando sobre áreas rurais e estendendo o perímetro urbano e, portanto, fazendo com que as linhas de ônibus se estendam ainda mais e o número de passageiros transportados por quilômetro caia ainda mais.
Publicado no jornal A Noticia de Joinville SC
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