16 de fevereiro de 2014

O paradoxo do navio de Teseu


A reforma administrativa anunciada desde o ultimo trimestre de 2013, foi, aos poucos vazando, de forma deliberada e gradativa pela imprensa ou por canais informais. “Fulano vai sair da presidência e assumira um cargo na Camara”. “Zicrano, é o nome de confiança do prefeito para dirigir o Instituto”. “O instituto tal será extinto e as suas funções e competências serão distribuídas entre varias secretarias e fundações”. Uma vez divulgada com fanfarra e foguetório o mais provável é que nada mude muito. E tudo não passe de um factoide efêmero.

Viveremos novamente o paradoxo do navio de Teseu, na sua versão sambaquiana. O que um filosofo local poderia denominar: O paradoxo da batera do Udo. O paradoxo de Teseu propõe uma situação interessante: a tripulação do navio, ao longo do tempo tem ido substituindo todas as tabuas podres ou estragadas e as substituiu por madeiras e aparelhagem novas. De forma que pouco quede do navio original que saiu do porto. Tudo no navio é novo. Mas continua sendo o mesmo navio de Teseu. Assim, mesmo que todo o navio tenha sido substituído, o navio mantém o rumo, a velocidade e o capitão. Nada por tanto mudou.

As mudanças anunciadas projetam um novo paradoxo, o de que tudo mude, para que tudo permaneça como esta. No estilo de Giuseppe Tomasi di Lampedusa na sua novela Il Gattopardo. Alias quanto mais o tempo passa, mais este governo municipal fica parecendo com o anterior e ganhará quem aposte em que não se diferenciará nada do próximo.  Joinville vive uma situação paradoxal. Entra governo, sai governo, assume este ou aquele administrador e os nomes que ocupam cargos comissionados e tem poder de decisão no mudam, permanecem firmemente grudados e mamando nos úberes fartos do poder público. Mesmo com a alternância do poder, a maioria dos cargos é ocupada pelos mesmos nomes de sempre, num caso de mimetismo partidário e de sobrevivência política que merece estudos mais aprofundados.


A conclusão é a de que a reforma administrativa não conseguirá, tampouco esta vez, remover a craca, que presa ao casco do navio municipal, atrapalha a navegação, até o ponto de impedir que o navio singre livremente o Cachoeira e reduz a velocidade até que fique atolado no cais lamacento. 

Publicado no jornal A Noticia de Joinville SC

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