Els caganers
Os presépios são típicos desta época do ano. Reproduzem a imagem
fantasiada do momento e do lugar em que de acordo com a tradição nasceu Jesus.
Há países e culturas em que a construção do presépio ganha sofisticação e
requintes de obra de arte, mas também são uma forma de expressar a cultura
popular. Em Catalunha, Espanha, é comum encontrar escondido em algum dos cantos
do presépio o “caganer” em português o cagão, uma figura icônica do presépio popular.
Quando criança achar o “caganer” era um atrativo adicional a fascinação que
exerciam os presépios.
Hoje além do “caganer” vestido com a barretina tradicional,
o mercado oferece centenas de alternativas, de políticos a atores, de jogadores
de futebol a personagens do imaginário popular. Há na figura do “caganer” essa
mistura tão comum na cultura mediterrânea de misturar a irreverencia com o
respeito, de juntar num mesmo momento a seriedade com o deboche. É este equilíbrio
pendular entre os dois extremos o que permite que num mesmo presépio convivam
anjos anunciando o nascimento de jesus e “caganers” escondidos detrás de uma
moita, na mais pura reprodução da nossa realidade quotidiana, em quanto uns
vivem a sua vida diária há os que não podem evitar fazer o que todos os “caganers”
fazem.
Há na figura do “caganer”, mostrado com as calças abaixadas
e defecando uma forma de protesto frente ao “status quo” e suas normas e
regulamentos. O “caganer” é a figura fora de lugar na imagem idílica do presépio.
A sua figura rompe a imagem idílica da paisagem perfeita, a sua presença
humaniza e dessacraliza a representação do nascimento de Jesus.
O objetivo inicial de reproduzir a imagem da manjedoura, da
virgem e de São José, acompanhados do boi e do asno que de acordo com a
tradição cristã, seriam a fiel imagem daquela noite de dezembro faz mais de
dois mil anos. A imaginação, a habilidade, a técnica e os meios disponíveis tem
sofisticado os presépios que contam com rios de aguas límpidas, com pastores e
seus rebanhos, com agricultores e suas hortas e campos de cultivo, com
caravanas de reis magos que cada dia se aproximam um pouco mais para que sua
chegada coincida com a noite do 5 de janeiro, quando de acordo com a mesma tradição
os reis chegaram a Belen e fizeram as suas oferendas. É esta tradição a que faz
que convivam em alguns países o Papai Noel e Melchior, Gaspar e Balthazar.
Os brinquedos são a versão moderna do ouro, a mirra e o
incenso, mas a logica sempre foi que os mesmos reis magos que trouxeram suas
oferendas para o menino deus, seguissem desempenhando a mesma tarefa e presenteassem
a todas as crianças com os seus presentes. A disputa entre a crescente pressão
comercial do natal liderada pelo omnipresente Papai Noel deve se considerar
vencida pelo marketing mais agressivo e bom velhinho. Até porque as crianças de
hoje não querem ficar esperando quase duas semanas a que cheguem os reis e seus
pagens montados em camelos, que na verdade são dromedários, trazendo os
brinquedos. Em tempos em que o tempo é dinheiro, ninguém gosta mais de três velhinhos
que chegaram atrasados. As crianças e os adultos seguem buscando os “caganers”
escondidos, ou nem tanto, num canto do presépio. Até porque não faltarão nunca os
que vivem fazendo o que os “caganers” fazem com tanta propriedade.
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